Pedro Henrique Tavares*
Contribuições de Roberto Seitenfus*
Recentemente um comentário nas listas do movimento estudantil causou debates acalorados sobre homofobia e movimento estudantil, mais no sentido de criticar pessoalmente o companheiro que escreveu, e não no sentido da reflexão acerca das praticas discriminatórias.
É consenso que vivemos um novo momento no movimento estudantil, que começou com a ocupação da USP, e tem ápice com grandes vitórias na UnB (Universidade de Brasília). As lutas agora se dão por uma universidade radicalmente diferente, com expansão de qualidade, as lutas nas universidades particulares começam a ganhar corpo com a partir do exemplo do DCE Unama.
Todavia, a universidade e os movimentos estudantis não são uma bolha, inertes ás práticas do conjunto da sociedade, nada que justifique entretanto determinadas práticas. Temos uma universidade e um movimento estudantil extremamente racista, machista e homofóbico, este último cerne da discussão desse texto, com determinadas nuances na intensidade do preconceito, fruto também das particularidades e conquistas de cada segmento das chamadas “minorias”.
Quantos alunos, professores, servidores vivem sua orientação sexual de forma tranqüila, sem se preocupar com os padrões impostos? A resposta para isso aponta o retrato da universidade que temos, e a queremos, livre, laica e libertaria e isso, só será possível mediante lutas. O movimento estudantil por sua vez acaba reproduzindo a homofobia, algo estranho no novo cenário de reorganização das lutas, e perdemos muitos lutadores que poderíamos aglutinar se nos despíssemos do preconceito.
Por outro lado reconhecemos que conseguimos alguns avanços, que precisam ser radicalizados. Ultimamente virou tradição debater o combate às opressões nos fóruns e espaços do movimento estudantil, talvez algo politicamente correto, pois o politicamente correto foi também a desculpa de setores da direita, como o PSDB e tantos outros que criaram setoriais GLBTs e Secretarias de governo para as chamadas “minorias”, pois mais do que atitudes concretas, serve apenas para levantar o provável e não concretizar em ações afirmativas, aliás, ações afirmativas também é o que setores como o PT e outros da dita esquerda utilizam para levantar a bandeira GLBT. Ora, o que nos diferencia destes é justamente a concepção de classe, o norte que somente com uma ruptura com o capitalismo, que se utilizou sempre dastas “minorias” como mão de obra barata.
De outro ângulo precisamos combater o “politicamente correto”. O debate da diversidade sexual, pelo lobby das Paradas, acabou sendo introduzido timidamente nos espaços do movimento estudantil, ainda que apenas na forma de mesas de debates em alguns encontros. Lembro que no ultimo ENEL (Encontro Nacional dos Estudantes de Letras) a Executiva de Letras patrocinou um debate de combate às opressões, e nós, do coletivo nacional de juventude Vamos a Luta, apontamos a necessidade de levar este debate pra a base, para que seja feito não somente nos fóruns do movimento estudantil, mas cotidianamente, em cada CA e DCE.
Nossa posição em favor de uma universidade radicalmente diferente, com educação de qualidade, contra o aumento de mensalidade, sem privatizações, tem que ser também vanguarda contra todas as formas de opressão. Um movimento estudantil libertário, laico é o nosso grande desejo, mas não será materializado somente com a nossa boa vontade, e sim resultados das lutas.
Projetos como a Reforma Universitária, Reuni, Lei de Inovações Tecnológicas, entre outros em nada vão ajudar na construção de uma universidade que combata a homofobia porque pesquisam apenas nichos mercadológicos, e não pesquisam sobre homofobia ou qualquer outro mecanismo de transformação social.
Foi com lutas que conseguimos a criação da diretoria GLBTTT da UNE no CONUNE (Congresso da UNE) de 2005. No inicio a diretoria serviu de braço do governo, semeando ilusões no programa Brasil sem Homofobia, mas com conquistas, como o Programa Universidade Fora do Armário, que ajudou a fundar coletivos de diversidade sexual em universidades. Todavia, hoje a diretoria parou de funcionar e o movimento estudantil segue na inércia homofóbica.
Tem sido realizado o Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual, e em que pese às criticas ao Encontro por seu academicismo, é o único espaço onde estudantes podem se reunir pra debater diversidade sexual, e poucas correntes do movimento estudantil deram importância pro debate e pro encontro em si. Criaram-se grupos universitários de diversidade sexual (Plural na UFES, Colcha de Retalhos na UFG, Diversitas na UFF, Orquídeas na UFPA, entre tantos outros) que não tem atuado com os DCE’s, CA’s, DA’s, Executivas de curso, UNE e Conlute, e vice-versa, e nesta atuação não nos referimos as gestões, e sim as entidades.
Em 2008 o Centro Acadêmico de Veterinária da USP foi protagonista de um fato histórico. Não estamos falando das lutas em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade, mas a um ato vergonhoso de homofobia. Dois estudantes se beijaram e foram expulsos da festa pela direção do CA. Uma atitude que se contradiz mais ainda por vir da direção do movimento estudantil, por reforçar valores preconceituosos da heteronormatividade e perpetuar a opressão. Felizmente conseguiu-se dar respostas e se fazer um ato vitorioso contra a homofobia, articulado pelo GT de GLBT da Conlutas, pelo DCE USP e pelo grupo CORSA.
São estas formas sutis e explicitas de opressão que precisamos acabar para fazer valer os direitos humanos, a pluralidade e a liberdade sexual. Isso envolve a radicalidade da própria democracia nas universidades. Vemos o movimento estudantil lutar por democracia interna, eleições paritárias, entre outras bandeiras importantíssimas. Mas nessa hora vem a pergunta: onde está o movimento estudantil para defender uma universidade livre, onde todos e todas possam se beijar e amar livremente? Isto tem haver com o nosso conceito de democracia.
É uma tradição nos grupos do movimento estudantil fazer cursos de formação política, precisamos com urgência transversalizar o debate de diversidade sexual nesses espaços, trazendo para o caráter de classe a opressão sexual. A luta contra a homofobia é a luta da resistência de um movimento estudantil combativo, de luta e atuante.
Chegamos em 2009 no olho do furacão de uma crise econômica que a burguesia tenta empurrar para os trabalhadores e a juventude pagarem a conta. A grande preocupação, alem das outras de praxe, é que o debate de diversidade sexual que sempre foi secundário acabe totalmente esmagado no rolo compressor.
O movimento estudantil precisa dar respostas concretas á homofobia da universidade e principalmente de si mesmo. Precisamos fazer da diversidade sexual um valor presente no dia a dia das trincheiras de lutas e não utilizar como o PT e tantos Partidos oportunistas que fazem um debate aceito por qualquer burguês de plantão, pois com o chamado “mercado Pink” muitos homossexuais, estudantes, professores se consideram aceitos, sendo que apenas são reconhecidos momentâneamente em uma sociedade capitalista que os vê como mera mercadoria e com isso não constrói uma mudança de fato.
O que não podemos mais tolerar são as piadinhas e outras formas de discriminação no seio do movimento estudantil com o cínico argumento de que a homofobia é um problema mais amplo, e porque a sociedade é homofobia o movimento estudantil também é. Este é um argumento vazio que legitima a homofobia e avizinha-se da hipocrisia. Precisamos libertar o movimento estudantil da homofobia pra construirmos lutas de fato transformadoras, aprender com as conquistas do movimento de mulheres, negritude e com este aprendizado, trazer conquistas para o movimento GLBT.
É consenso que vivemos um novo momento no movimento estudantil, que começou com a ocupação da USP, e tem ápice com grandes vitórias na UnB (Universidade de Brasília). As lutas agora se dão por uma universidade radicalmente diferente, com expansão de qualidade, as lutas nas universidades particulares começam a ganhar corpo com a partir do exemplo do DCE Unama.
Todavia, a universidade e os movimentos estudantis não são uma bolha, inertes ás práticas do conjunto da sociedade, nada que justifique entretanto determinadas práticas. Temos uma universidade e um movimento estudantil extremamente racista, machista e homofóbico, este último cerne da discussão desse texto, com determinadas nuances na intensidade do preconceito, fruto também das particularidades e conquistas de cada segmento das chamadas “minorias”.
Quantos alunos, professores, servidores vivem sua orientação sexual de forma tranqüila, sem se preocupar com os padrões impostos? A resposta para isso aponta o retrato da universidade que temos, e a queremos, livre, laica e libertaria e isso, só será possível mediante lutas. O movimento estudantil por sua vez acaba reproduzindo a homofobia, algo estranho no novo cenário de reorganização das lutas, e perdemos muitos lutadores que poderíamos aglutinar se nos despíssemos do preconceito.
Por outro lado reconhecemos que conseguimos alguns avanços, que precisam ser radicalizados. Ultimamente virou tradição debater o combate às opressões nos fóruns e espaços do movimento estudantil, talvez algo politicamente correto, pois o politicamente correto foi também a desculpa de setores da direita, como o PSDB e tantos outros que criaram setoriais GLBTs e Secretarias de governo para as chamadas “minorias”, pois mais do que atitudes concretas, serve apenas para levantar o provável e não concretizar em ações afirmativas, aliás, ações afirmativas também é o que setores como o PT e outros da dita esquerda utilizam para levantar a bandeira GLBT. Ora, o que nos diferencia destes é justamente a concepção de classe, o norte que somente com uma ruptura com o capitalismo, que se utilizou sempre dastas “minorias” como mão de obra barata.
De outro ângulo precisamos combater o “politicamente correto”. O debate da diversidade sexual, pelo lobby das Paradas, acabou sendo introduzido timidamente nos espaços do movimento estudantil, ainda que apenas na forma de mesas de debates em alguns encontros. Lembro que no ultimo ENEL (Encontro Nacional dos Estudantes de Letras) a Executiva de Letras patrocinou um debate de combate às opressões, e nós, do coletivo nacional de juventude Vamos a Luta, apontamos a necessidade de levar este debate pra a base, para que seja feito não somente nos fóruns do movimento estudantil, mas cotidianamente, em cada CA e DCE.
Nossa posição em favor de uma universidade radicalmente diferente, com educação de qualidade, contra o aumento de mensalidade, sem privatizações, tem que ser também vanguarda contra todas as formas de opressão. Um movimento estudantil libertário, laico é o nosso grande desejo, mas não será materializado somente com a nossa boa vontade, e sim resultados das lutas.
Projetos como a Reforma Universitária, Reuni, Lei de Inovações Tecnológicas, entre outros em nada vão ajudar na construção de uma universidade que combata a homofobia porque pesquisam apenas nichos mercadológicos, e não pesquisam sobre homofobia ou qualquer outro mecanismo de transformação social.
Foi com lutas que conseguimos a criação da diretoria GLBTTT da UNE no CONUNE (Congresso da UNE) de 2005. No inicio a diretoria serviu de braço do governo, semeando ilusões no programa Brasil sem Homofobia, mas com conquistas, como o Programa Universidade Fora do Armário, que ajudou a fundar coletivos de diversidade sexual em universidades. Todavia, hoje a diretoria parou de funcionar e o movimento estudantil segue na inércia homofóbica.
Tem sido realizado o Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual, e em que pese às criticas ao Encontro por seu academicismo, é o único espaço onde estudantes podem se reunir pra debater diversidade sexual, e poucas correntes do movimento estudantil deram importância pro debate e pro encontro em si. Criaram-se grupos universitários de diversidade sexual (Plural na UFES, Colcha de Retalhos na UFG, Diversitas na UFF, Orquídeas na UFPA, entre tantos outros) que não tem atuado com os DCE’s, CA’s, DA’s, Executivas de curso, UNE e Conlute, e vice-versa, e nesta atuação não nos referimos as gestões, e sim as entidades.
Em 2008 o Centro Acadêmico de Veterinária da USP foi protagonista de um fato histórico. Não estamos falando das lutas em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade, mas a um ato vergonhoso de homofobia. Dois estudantes se beijaram e foram expulsos da festa pela direção do CA. Uma atitude que se contradiz mais ainda por vir da direção do movimento estudantil, por reforçar valores preconceituosos da heteronormatividade e perpetuar a opressão. Felizmente conseguiu-se dar respostas e se fazer um ato vitorioso contra a homofobia, articulado pelo GT de GLBT da Conlutas, pelo DCE USP e pelo grupo CORSA.
São estas formas sutis e explicitas de opressão que precisamos acabar para fazer valer os direitos humanos, a pluralidade e a liberdade sexual. Isso envolve a radicalidade da própria democracia nas universidades. Vemos o movimento estudantil lutar por democracia interna, eleições paritárias, entre outras bandeiras importantíssimas. Mas nessa hora vem a pergunta: onde está o movimento estudantil para defender uma universidade livre, onde todos e todas possam se beijar e amar livremente? Isto tem haver com o nosso conceito de democracia.
É uma tradição nos grupos do movimento estudantil fazer cursos de formação política, precisamos com urgência transversalizar o debate de diversidade sexual nesses espaços, trazendo para o caráter de classe a opressão sexual. A luta contra a homofobia é a luta da resistência de um movimento estudantil combativo, de luta e atuante.
Chegamos em 2009 no olho do furacão de uma crise econômica que a burguesia tenta empurrar para os trabalhadores e a juventude pagarem a conta. A grande preocupação, alem das outras de praxe, é que o debate de diversidade sexual que sempre foi secundário acabe totalmente esmagado no rolo compressor.
O movimento estudantil precisa dar respostas concretas á homofobia da universidade e principalmente de si mesmo. Precisamos fazer da diversidade sexual um valor presente no dia a dia das trincheiras de lutas e não utilizar como o PT e tantos Partidos oportunistas que fazem um debate aceito por qualquer burguês de plantão, pois com o chamado “mercado Pink” muitos homossexuais, estudantes, professores se consideram aceitos, sendo que apenas são reconhecidos momentâneamente em uma sociedade capitalista que os vê como mera mercadoria e com isso não constrói uma mudança de fato.
O que não podemos mais tolerar são as piadinhas e outras formas de discriminação no seio do movimento estudantil com o cínico argumento de que a homofobia é um problema mais amplo, e porque a sociedade é homofobia o movimento estudantil também é. Este é um argumento vazio que legitima a homofobia e avizinha-se da hipocrisia. Precisamos libertar o movimento estudantil da homofobia pra construirmos lutas de fato transformadoras, aprender com as conquistas do movimento de mulheres, negritude e com este aprendizado, trazer conquistas para o movimento GLBT.
*Estudante de Ciencias Sociais da UFPA, militante do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL, ex-conselheiro superior no CONSEP e CONSUN na UFPA, ex-vice presidente do DCE UNAMA, ex-militante da Kizomba (direção majoritaria da UNE).
*Estudante de Direito na UniRitter, Porto Alegre. militante do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL/RS, nucleo GLBT. Ex Conselheiro de Direitos Humanos de Porto Alegre. Dirigente do Grupo DESOBEDEÇA GLBT RS.
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3 comentários:
EXCELENTE texto... meus parabéns aos companheiros. Precisamos seguir formulando sem sectarismo e sem oportunismo.
Todos e todas pela diversidade sexual, contra o governo Lula homofóbico e machista.
saudações,
Denis Melo
Texto irado.
Parabéns!
é comum ouvirmos e tambem fazermos piadinhas opressivas de todo tipo. o texto nos ajuda a fazer essa discussão.
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