segunda-feira, 23 de junho de 2008

Seguir o exemplo dos estudantes do Chile!

Leia o boletim internacional sobre o Chile
Seguem as ocupações de escolas e faculdades e as manifestações de rua da juventude Chilena. É uma mobilização em pleno desenvolvimento e que tem seus antecedentes na “revolução dos pingüins” de 2006, porem que hoje se expressa com evidentes transformações. Delas, a mais evidente é a experiência, porem também a politização e radicalização das demandas dos estudantes. A unidade com os professores e demais trabalhadores contra a LGE - Lei Geral de Educação, é importante pois a proposta apresentada por Bachelet ao congresso na qualidade de urgência foi aprovada na câmara e segue para o Senado.
Em 2006, os estudantes secundaristas protestaram contra a LOCE (Lei orgânica Constitucional do Ensino), um dos últimos atos normativos da Ditadura de Augusto Pinochet. Aquele ano o governo de Michelle Bachelet criou uma comissão de estudos da qual surgiu um projeto aprovado pelo governo da Concertação e oposição de direita. Um projeto que levou a um acordo político que não considerou a principal demanda dos estudantes e professores: o fim da lógica do lucro na educação subsidiada pelo estado.
Os estudantes avançaram em seu nível de consciência através da experiência política. Diferente de 2006, quando as mobilizações, quando as mobilizações surgiram por assunto mais sentidos como salas de aula lotadas e da alta de passagens de ônibus, desta vez a demanda é política por onde se olhe e escute. A reivindicação sustentada pelos alunos em busca de uma mudança de fundo não pode ser incorporada no acordo entre o governo e a oposição.
A experiência é repassada pelos universitários e pelos porta-vozes de 2006 da revolução dos pingüins. Maria de Jesus Sanhueza, uma das protagonistas com mais sólida formação política do movimento dos pingüins de 2006, voltou a luta este ano desde a retaguarda, em apoio aos mais jovens, na coordenação e organização das mobilizações. A “Joshu”, como a chamam seus amigos e conhecidos, esta nesse processo, como diz ela, como uma estudante a mais. E faz isso com intensidade: na semana passada se acorrentou com cadeiras na embaixada do Brasil em Santiago. Um ação que buscou, “capturar a atenção internacional, a solidariedade internacional ante a repressão que recebem os estudantes chileno”.

Entrevista com María Jesús Sanhueza.

Como os estudantes estão se coordenando desta vez?
María Jesús Sanhueza
: Este grupo é formado por estudantes universitários e secundaristas. È a coordenação dos estudantes em luta. Ela se formou e foi crescendo, uma organização de estudantes estruturada a nível comunal, um cordão comunal. Há um sentido, uma forma de organizar desde o território, que também tem autonomia para tomar suas próprias decisões.

Que papel tens nesse grupo?
María Jesús Sanhueza:
Sou uma estudante a mais que impulsiona a mudança, que protesta contra o sistema educacional de mercado, que não mudou desde 2006. Aqui o importante é no radicar o movimento em uma figura, em uma pessoa específica. Isto é muito importante. È um movimento, uma organização, uma entidade coletiva. O trabalho social ou político não deve passar o radicar em uma pessoa especifica. Dessa forma o movimento se conserva, se preserva, estará presente ainda que os quadros dirigentes já no estejam no ensino médio.

Do ponto de vistas das pautas, que diferenças existem entre as de 2006 e as atuais?
María Jesús Sanhueza
: Não mudaram as demandas. Mudanças na estrutura do sistema educacional. O que sim mudou é a atitude e a consciência dos estudantes. O grau de politização é infinitamente maior. Tem-se a clareza, a convicção de que isso não é um problema pontual ou superficial, sim que é parte de uma estrutura política mais profunda.

Tu protestaste contra o ministro da educação Martin Zilic. Passou a ministra Yasna Provoste e agora os jovens se manifestam contra a senhora mônica Jiaménez de La Jará. Que diferenças existem entre estes ministros? Há possibilidades de comunicação?
María Jesús Sanhueza
: Não há grandes diferenças. A ministra é parte do governo, de uma estratégia política. É desde o governo que se envia a policia para reprimir aos estudantes, a desalojar de forma violenta os colégios ocupados. O que sim mudou, e de forma notória, é a repressão. Nestes dias o governo, que é o mesmo, endureceu tremendamente seu aparato repressivo. Claramente se trata de violações dos direitos humanos.
Chegaste a te acorrentar em uma porta da embaixada do Brasil em Santiago. Qual foi o motivo dessa ação e quais os efeitos?
María Jesús Sanhueza:
Expressar a comunidade internacional que no Chile existem violações dos direitos humanos contra os estudantes. Após as ações temos conseguido a solidariedade internacional de organizações de estudantes do Brasil e da Califórnia, nos EUA. Há um grupo de estudantes que manifestou seu rechaço a visita de Bachelet.

A ministra Jiménez afirmou que se não se aprova a Lei Geral de Educação, continua a LOCE...
María Jesús Sanhueza
: Claro, pois prevalece o acordo entre quatro paredes entre a Concertação e a direita. E um acordo que se fez se levar em conta as propostas e demandas dos estudantes. Esse acordo da classe política não representa nem a cinco por cento da população, enquanto o resto, a grande maioria, não está representada.

Como vez o movimento estudantil de 2008 em relação a 2006?
María Jesús Sanhueza:
Sem duvida esta muito mais reforçado. Esta aliança com os universitários é importante. Há uma desconfiança geral com relação ao governo. Passamos de aspectos e demandas pontuais apresentadas em 2006, como eram os assuntos relacionados com a mobilização, com os passes escolares, a aspectos de fundo. Neste sentido, estamos falando hoje de um movimento político.

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