segunda-feira, 15 de março de 2010

Mobilização obtém vitória na UFRGS! após enfrentar repressão

Estudantes, trabalhadores e camponeses 1 X 0 Multinacionais, Governo Lula, Reitoria, e DCE Livre.
O dia 5 de março vai com certeza entrar para a história do Movimento Estudantil da UFRGS. Em ampla aliança com movimentos sociais e organizações da classe trabalhadora, conseguimos impor uma derrota aos inimigos do caráter público da Universidade.
Também uma marca extremamente negativa ficou hoje, após os anos de chumbo da ditadura militar, não se via uma repressão tão forte por parte da segurança da universidade aos lutadores.
A mando do reitor Alex, os seguranças da UFRGS reprimiram violentamente uma manifestação pacífica que buscava ampliar o debate na universidade sobre o real caráter do projeto do Parque Tecnológico na UFRGS. O reitor, a serviço das mega-empresas, quis a todo custo impor um projeto sem debate nenhum com a comunidade acadêmica, mas se deu mal. Não esperava que bravamente resistíssemos e garantíssemos a anulação da reunião do Conselho Universitário.
Começa a derrota de um projeto
O projeto privatista, que busca utilizar das estruturas públicas para servir ao lucro de meia-dúzia de empresários, sofreu um importante golpe hoje na UFRGS.
Queremos colocar claramente que este projeto é parte de um amplo processo que, obviamente, por a UFRGS não ser uma ilha, ocorre através de diversas políticas aplicadas em todas as Universidades Públicas Federais brasileiras. O projeto das fundações de “apoio”, a Reforma Universitária arquitetada pelo Banco Mundial, o REUNI, são todos parte do projeto de Lula para a educação.Quem não se lembra,por exermplo, da fundação ligada a UNB que deu de ‘presente’ uma lixeira de MIL reais ao então reitor Timoti. Não à toa, há um crescimento extraordinário da educação superior privada através de isenções fiscais, abocanham mais de 80% das vagas do ensino superior no Brasil, e somente no governo petista cresceu mais de 60%! Enquanto isto, cresce a presença da iniciativa privada nas Universidades Federais. Já hoje, 10% de toda a pesquisa produzida na Universidade é financiada pelas grandes empresas, que se utilizam do conhecimento produzido como forma de maximizar seus lucros.
É justamente esta lógica imposta pelo Governo e seus aliados que combatemos. Não é por acaso que militantes do PT e o PCdoB, apoiaram de forma tão entusiasta a eleição do reitor Alex, justamente por compartilharem de projetos iguais. Não à toa o PP, partido do presidente do DCE Renan Pretto, é base de apoio do governo Lula e também apóia o projeto. Além disto, no país governado pelo PT vivemos um contexto de crescente criminalização das greves, lutas, mobilizações, ocupações de terra, da qual a repressão de hoje é apenas mais um triste capítulo.
Mas por que nos opomos de forma tão veemente a este projeto?
Porque pensamos que a lógica do conhecimento produzido na Universidade Pública é inversa. O projeto do Parque defendido por todos estes setores que expusemos acima visa colocar o conhecimento produzido na UFRGS à serviço da iniciativa privada. Nosso projeto visa que o conhecimento produzido na UFRGS deve estar a serviço das necessidades da classe trabalhadora e do povo pobre. Por exemplo, ao invés de fazer uma pesquisa para ampliarmos o lucro da bilionária família Gerdau, a produção do conhecimento deve estar preocupada em como vamos resolver os problemas dos afetados pelas enchentes no RS, como vamos lutar contra o avanço da dengue, enfim, de como vamos enfrentar os graves problemas sociais de nosso país.
Somente mantendo e aprofundando nossa mobilização podemos derrotar o Parque Tecnológico na UFRGS.
Foi dado o primeiro passo. De fato, hoje é um dia a ser comemorado pelos lutadores. Porém, sabemos que é necessário continuar com ainda mais força. Construímos uma fortíssima mobilização em tempos de férias letivas. A tarefa central de todos do movimento estudantil é de fato ampliar a mobilização e levar o debate democrático para o conjunto da comunidade acadêmica e mais ainda para o povo que é quem sustenta essa universidade.Segunda-feira é um dia fundamental de mobilização, de colocar em cada sala de aula o que está acontecendo na universidade. De chamar cada colega, cada funcionário, cada professor ao debate. De colocar que não podemos aceitar calados que os tempos dos porões da ditadura voltem na nossa universidade. E na terça-feira temos que estar todos às 18h30m no DAECA para discutir como avançar nossa luta.
Todos lá porque o tempo não pará!

sexta-feira, 5 de março de 2010

O Haiti precisa de comida, não de armas! De médicos, e não de mais soldados!

Diego Vitello – Estudante de História e da Juventude Vamos à Luta

Fabiano “Pereira” - Estudante de Ciências Sociais e da Juventude Vamos à Luta


A magnitude da tragédia haitiana, como consequência do terrível terremoto acontecido no dia 12 de janeiro, comoveu o mundo inteiro. As cifras oficiais já chegam a 250 mil mortos e podem ser muitos mais. Praticamente toda a frágil infra-estrutura da capital Porto Príncipe desabou ou foi afetada de alguma forma.

Três milhões de irmãos haitianos perambulam pelas ruas tentando achar, resgatar ou enterrar seus familiares ou amigos. A fome e as epidemias, que já eram signo distintivo do regime da MINUSTAH (nome da missão de ocupação da ONU), se exacerbaram, ainda mais. Infelizmente a situação tende a piorar para os milhões de desabrigados pois se avizinha em abril a estação das chuvas. Diante desse realidade é impossível que nós, estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, fechemos os olhos para esta realidade. Os que subscrevem este texto pensam que temos que abrir o debate em toda a UFRGS sobre a situação haitiana.


Um pouco de história

Aos efeitos devastadores do terremoto, se combinaram centenas de anos de colonialismo e saque imperialista, deixando o país sem condições de resposta, multiplicando, sobre o povo, as infelizes consequências. Este é o preço que os donos do capital impuseram a este povo heróico, o primeiro país latino-americano a conquistar sua independência, em 1804, após uma sangrenta rebelião de escravos negros que expulsaram os escravocratas franceses. À época, a notícia se espalhou como um rastro de pólvora , gerando um ódio gigantesco na elite branca que explorava mão-de-obra escrava em toda a América Latina. Com esta verdadeira revolução, os haitianos transformaram os latifúndios que antes se destinavam somente à exportação de açúcar, em pequenas propriedades unifamiliares dedicadas à subsistência. Os embargos econômicos das potências imperialistas, dificultaram enormemente a vida deste povo lutador. A partir do século XX, os EUA intervieram militarmente para impor ao país ditaduras sangrentas e a volta da grande propriedade rural. As pequenas propriedades que restaram foram sendo expropriadas por governos ditatoriais como o de Papa Doc e Baby Doc. Isto gerou uma migração em massa e muita pobreza nas grandes cidades, cujo maior exemplo é Porto Príncipe. Essa miséria humana mais uma vez transformou-se em uma imensa fonte de lucro para as multinacionais que utilizam das dificuldades do país para pagar salários mensais que equivalem a R$115 em suas famigeradas maquiladoras instaladas em território haitiano.


O que a grande mídia brasileira se nega a dizer: Qual é o verdadeiro papel das tropas Brasileiras e da ONU?

Vale à pena voltarmos brevemente na história para vermos em que circunstâncias começou a ocupação militar brasileira no Haiti. Em 2004, os EUA de Bush intervêm mais uma vez com força no Haiti e depõe o presidente eleito Jean Aristide. Em que pese a que ele já vinha se afastando de suas raízes populares e de esquerda(Aristisde é uma grande referência da chamada teologia da libertação, que organiza a esquerda católica), o seu governo despertava um importante patamar de mobilização do povo. Bush, já empantanado e gastando trilhões de dólares com sua guerra no Iraque e no Afeganistão, pede a seu “amigo”(como ele mesmo chamou) Lula que suas tropas chefiem uma ocupação militar que devolvam a “ordem” ao Haiti e “ajudem” o novo governo pró-imperialista de René Preval a manter o povo em estado de miséria e exploração extrema. Enquanto isso, Lula era ovacionado pela imprensa brasileira que dizia que as tropas brasileiras iriam pacificar o Haiti. Desde lá, o presidente brasileiro ordenou gastou de mais de 600 milhões em armamentos, enquanto sua recente “ajuda humanitária” foi de apenas 15 milhões. Agora o próprio governo imperialista de Obama colocou 12 mil soldados(“Marines”) para ajudar Lula na sua política. Mas “o que o Brasil e a ONU fizeram em seis anos de ocupação no Haiti? As casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo. Alguns desses problemas foram resolvidos com a presença de milhares de militares de todo mundo”? (carta de Otávio Calegari Jorge – pesquisador da UNICAMP em Porto Príncipe)

Mas o que estes senhores da grande mídia e do governo chamam de pacificar e colocar ordem? Em primeiro lugar alguns fatos: em agosto de 2009, junto com a greve de 2 semanas dos operários têxteis, milhares de trabalhadores haitianos saíram às ruas pelo aumento do salário mínimo para cerca de R$190 reais, ou 200 gourdes. As tropas da MINUSTAH, comandadas pelo Brasil, reprimiram ferozmente as manifestações, matando dois operários. No primeiro ano da ocupação militar, milhares de estudantes saíram às ruas de Porto Príncipe para protestar por mais professores nas escolas e melhorias no sistema educacional, as tropas mais uma vez reprimiram, gerando uma morte. Estes são apenas dois de muitíssimos fatos que desmascaram o papel das tropas de Lula no Haiti.


Chamamos os estudantes da UFRGS à prestarem sua solidariedade ao povo haitiano

Neste momento tão drástico e difícil para o povo haitiano, não podemos mais do que iniciar uma solidariedade ativa e prática. Demonstrações imensas de solidariedade já estão sendo dadas pela CONLUTAS e diversos sindicatos do país, como o dos Metalúrgicos e o dos Químicos de São José dos Campos, onde os operários votaram em assembléia que 1% do salário de cada um vá para as organizações operárias e populares do Haiti.

Aqui na UFRGS, uma pequena e modesta iniciativa já está sendo feita e queremos que este espírito se espalhe pela nossa Universidade. A Juventude Vamos à Luta, coletivo de estudantes do qual fazem parte os que subscrevem este texto, está promovendo uma rifa de R$2,00 cada número para concorrer ao livro Os Jacobinos Negros da editora Boitempo e que conta a história da Revolução Escrava que libertou o Haiti no ano de 1804. O dinheiro arrecadado será enviado diretamente à organização operária, popular e estudantil ROZO(Rede de Organizações da Zona Oeste), que são 25 organizações dos bairros pobres de Porto Príncipe, onde a “ajuda humanitária” dos Estados praticamente não chegou.